terça-feira, 13 de abril de 2010

E há tempos...

Eu tinha 13 anos e conhecia apenas "Índios", apresentada pelo meu tio numa tarde ensolarada da casa do meu avô, onde a radiola (sim, eu sou do tempo de radiola), tocava numa rádio de jovens da época, a "velha" rádio Cidade, que dali me encantou por muitos anos porque era nela que eu sabia todos os sucessos dessa banda de rock que estava emplacando. Os anos? 80, claro. Bem, eu já estava "atrasada", era o 2º LP deles, claro, eu corri, comprei e ficava tardes e tardes, decorando e refletindo as letras, virando do lado A para o lado B o vinil que pouco tempo depois, óbvio, já apresentava alguns arranhões. Sim, mas voltando a Índios, a música deve ter uns 8 minutos ou mais e isso em rádio é absurdamente longo! Mas a Cidade tocava e eu ficava a espera porque sabia decorado os horários que ela iria tocar! Até que um dia meu tio chega e me diz que a banda tá vindo fazer um show! Era meu primeiro show, só conhecia uma música mas foi um show que marcou pra sempre minha adolescência. O show seria no Circo Voador (sim, eu ainda peguei o Circo Voador passando por aqui), e lá fui com meus dois tios, um  deles dez anos mais velho (o que me apresentou), o outro 5, e mais uns 5 amigos deles, todos homens, eu claro, aquela pirralha que nunca tinha ído a um show. Pra falar a verdade, lembro vagamente do show, mas lembro quando eles tocaram Índios, e lembro bem de um cheiro de mato queimado! Só viria descobrir depois que mato era aquele!
Bem, a partir dali eu segui a banda, nas suas letras e músicas que foram essenciais nas minhas crises e fases chatas onde a gente não sabe muito bem o que quer e sofre bastante por não saber quem é!  Vi mais dois shows, dessa vez, com meus amigos, completamente entregue e devoradora de todas as letras! E em diversas fases da minha vida, Legião foi marcando, hoje é nostalgia pura. Nostalgia da boa.
Minhas tardes foram assim, ficar na calçada morna da casa dos meus avós, vendo a vida passar, ouvindo eles...Mas aquilo que me fazia um bem danado! Fez tanto bem que até hoje eu escuto. O mentor da banda tá em outra dimensão e quando isso aconteceu a banda estava meio apagada da mídia, mas pra mim foi um baque, um choque quando eu soube naquela sexta a tarde pelo meu primo, fiquei sem querer acreditar. Pouco antes, estive num bar do lado da faculdade, onde o cara do lado insistia em tocar Legião, bebendo uma cervejinha com não sei quem, não recordo, e o som vindo de trás, só Legião. Eu estava ali feliz. Quando soube da notícia, corri e liguei na rádio cidade. O locutor que fazia um programa  de rock tinha a voz engasgada e resolveu fazer o fim de semana inteiro um especial de Legião, com entrevistas deles, depoimentos.Eu corri, peguei várias fitas cassetes, coloquei no micro-system e gravei fitas e fitas o fim de semana inteiro! Curti bem esse luto. 
Mais tarde, coincidentemente fui estagiar na rádio Cidade. Mas ela já não era a mesma, infelizmente, tocava Axé music e na época eu era alternativa demais! Mas ainda existia o tal programa de rock nas sextas-feiras e eu conheci o tal locutor e contei pra ele a história, do meu "luto" daquele triste final de semana após a morte de Renato, foi bom partilhar isso com ele.
Outro dia, sei lá, agora no final de março, tou eu assistindo um programa na TV que fez um especial ao Renato, ele estaria completando 50 anos. E lá estava o restante da banda. Foram alguns convidados cantar, ou seja, tentar substituir Renato. Impossível. Lamentável. O público em sua maioria, jovem demais pra entender aquilo. Batia palma porque era o jeito. Lamentável. Devia se perguntar porque um programa inteiro especial sobre esse "tal" cara... Esse mesmo público até curte hoje algumas músicas cantadas dele  tocada por outras bandas, e nem sonha de quem é na verdade. Mas esse mesmo público ainda estava nascendo quando vivemos aquela magia do Legião, que enlouquecia, inexplicavelmente, enlouquecia. Eu sei, isso foi Há tempos!

 

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