Resolvi escrever o meu relato de parto porque na verdade ele estava
entalado na garganta depois do meu primeiro parto em 2011. Na verdade esse
relato é a junção de dois relatos em um só, porque o primeiro justifica o
segundo, e porque um não estaria nunca dissociado do outro e porque a minha
história não ficaria completa apenas com o segundo.
Em 2010 engravidei de Tomás e já tinha em mente que queria um parto
normal. Minha ginecologista não fazia mais obstetrícia e me indicou a uma
colega de consultório, e logo na primeira consulta falei que queria um parto
normal ela foi super seca, antipática. Na segunda consulta falou que
estaria de férias na altura do nascimento e não poderia continuar me
acompanhando. Depois dessa tive uma terceira que disse logo que não fazia
normal, prefiro assim, ao menos não tentou enganar, diferente da penúltima que
disse que fazia (inclusive trabalhava também no Imip, daí me deixou mais
tranquila), porém no final da reta quis inventar uma cesárea e eu fugir dela
como o “diabo foge da cruz”!
Estava tudo tranquilo, nem gripe eu tive na gravidez, nada, nada, e com
39 semanas de Tomás fui fazer uma última ultra quando para minha surpresa acusou diminuição do líquido amniótico. Fiquei um pouco ansiosa e no
dia seguinte fui a consulta, era dia 6 de Julho. Ao chegar ela aferiu a pressão
e deu um pouco alta, detalhe que eu tenho tendência a ter baixa. Mas acho que minha
ansiedade alterou a pressão naquele dia. Ela disse logo que queria me ver no dia
seguinte, mas que eu já viesse preparada porque se a pressão continuasse alta iríamos
direto para o hospital fazer a cesárea. Vale salientar que um dia depois ela
viajaria de férias. Foi aí que fugi. Como ela tava programando essas férias,
ela mencionou, ao longo do pré-natal, que me encaminharia para uma outra médica
que faria também parto normal, mas nunca chegou a encaminhar oficialmente. Saí
do consultório e liguei para a tal médica e consegui um encaixe no mesmo dia. Naquela tarde ainda do dia 6 já estava na consulta.
Falamos sobre todo o meu pré-natal que foi super tranquilo e relatei minha
preocupação sobre essa “perda de líquido”. Ela pediu pra naquela mesma tarde (que tarde longa!) eu ir
em Dr. Etevaldo que era do lado do consultório dela. Fui e voltei para ela olhar o
resultado e estava tudo bem com o liquido, não havia sinal de perda. Ela me
tranquilizou e disse para esperar que eu tinha tudo para ter normal. Saí
tranquila e confiante. Na mesma noite, ainda dia 6 (dia longo viu?), às 10 e meia da noite
comecei a ter contrações. Às duas da manhã eu estava ligando para a médica que
eu havia conhecido poucas horas antes. Às 8 e meia da manhã do dia 7 eu chegava no Santa Joana
com contrações bem fortes, ela fez o primeiro toque e eu já estava com 5cm de dilatação. Passei boa parte da
manhã na recepção sofrendo com dores enquanto minha médica brigava para
conseguir um quarto para mim, tudo porque eu não estava na programação de cesárea do dia. Só depois das 11 da manhã entrei no quarto e fiquei usando uma bola de pilates que estava disponível. A doutora me deixou à vontade quanto ao uso da analgesia mas
perto da uma da tarde, com quase 8 de dilatação eu pedi (analisando hoje me arrependo de não ter chamado doula, teria sido essencial nesse momento). Ela não hesitou e
chamou (primeira intervenção). No meio da tarde ela deu outro toque permitido e depois
estourou a bolsa sem me perguntar. Disse que era para acelerar.
Eu estava sem comer desde a noite anterior, e sem dormir também. No final da tarde começou o período expulsivo, não me adaptei a banqueta, tentei outras posições mas terminei na posição de litotomia. Aí foi de seguida todas as intervenções, estresse e agonia da equipe gritando várias pessoas pedindo para eu fazer força... Todo aquele auê que não é necessário, o que deixou meu marido super angustiado, achando que estava acontecendo algo de errado com o bebê. Ele chegou a sair da sala pois começou a se sentir mal, depois voltou. Fui lacerada, fizeram a manobra de Kristeller e ainda usaram uma colher do fórceps para Tomás sair. Eu não tinha mais forças, já ia fazer 24 horas que estava sem comer! Então o argumento do fórceps foi “ajudar”, mas isso eu também só soube depois. Segundo ela, meu períneo não dilatava, contraía. Por um lado estava feliz de ter normal, por outro estava cheia de interrogações se precisava ter sido tão traumático, tão caótico aquele momento. Sem falar que acreditei por muito tempo que eu não era capaz de ter tido sozinha, que tinha “problemas no períneo”. Passei muito tempo decidida a ter o próximo de parto cesárea!
Eu estava sem comer desde a noite anterior, e sem dormir também. No final da tarde começou o período expulsivo, não me adaptei a banqueta, tentei outras posições mas terminei na posição de litotomia. Aí foi de seguida todas as intervenções, estresse e agonia da equipe gritando várias pessoas pedindo para eu fazer força... Todo aquele auê que não é necessário, o que deixou meu marido super angustiado, achando que estava acontecendo algo de errado com o bebê. Ele chegou a sair da sala pois começou a se sentir mal, depois voltou. Fui lacerada, fizeram a manobra de Kristeller e ainda usaram uma colher do fórceps para Tomás sair. Eu não tinha mais forças, já ia fazer 24 horas que estava sem comer! Então o argumento do fórceps foi “ajudar”, mas isso eu também só soube depois. Segundo ela, meu períneo não dilatava, contraía. Por um lado estava feliz de ter normal, por outro estava cheia de interrogações se precisava ter sido tão traumático, tão caótico aquele momento. Sem falar que acreditei por muito tempo que eu não era capaz de ter tido sozinha, que tinha “problemas no períneo”. Passei muito tempo decidida a ter o próximo de parto cesárea!
Continuei lendo relatos, conversando com um e com outro sobre meu “tal
problema” no períneo e descobri que nada daquilo existia. Mas o medo já estava
solidificado, eu já não acreditava que era capaz de parir sozinha. Poucos meses
antes de engravidar já tinha mudado de ideia, voltei a cogitar ter normal, mas decidi que faria tudo diferente. Comecei a ler sobre partos humanizados. Li muito e
conversei com muita gente. Engravidei. Quando falei pro meu marido que ia tentar
normal ele quase tem um treco! Disse que não aguentava passar por tudo de novo.
Falei que ia ser diferente. Aí vem aquela ladainha de procurar médico, do susto
do valor de um parto humanizado, descobri que o plano poderia cobrir boa parte,
e com quase 20 semanas conheci finalmente, Doutor Renato. Saí dali super
decidida, feliz, mas o medo de não ser capaz na hora me acompanhava, eu
duvidava muito de mim ainda, mas estava decidida a seguir em frente! Leandro
adorou também Doutor Renato e abraçou a ideia, também se informou, ajudou a
fazer o plano de parto, me apoiou 100% e estava animado de novo com a ideia.
Faltando menos de 1 mês pras 40 semanas conheci Maiana, doula e acupunturista,
bastou uma manhã ensolarada de maravilhosas picadas e muita conversa para eu desmistificar
de vez a tal história do meu períneo e finalmente acreditar que era capaz. A
procura por Maiana foi para aliviar as dores na região pélvica e diminuir a
ansiedade, mas ela terminou por aliviar aquela ferida que doía desde 2011,
desde que saí daquela sala de parto depois de ter normal mas mesmo assim,
desacreditada de mim. A última vez que encontramos eu estava com 39 semanas. Em
paralelo a esses encontros também conversei sobre isso com Ludmila, minha
doula, importante também para acreditar que tudo correria bem e que não havia
problema algum de períneo.
As 40 semanas e 3 dias, era uma quinta-feira, fomos a uma consulta com Doutor Renato, colo
fechado, tudo normal, que disse brincando pra eu andar, namorar e comer bastante pimenta! Obedeci apenas a última!
Na sexta resolvemos jantar num restaurante mexicano, sabia que seria nosso
último jantar a 3! Foi maravilhoso. Tomás com 3 anos e 4 meses estava numa
ansiedade sem tamanho pra chegada da irmã. Dava beijos na barriga, conversava
com Melissa, todos os dias perguntava quando ela ia chegar. Fui dormir umas 11 da noite. De madrugada às 3 e meia da manhã, acordei com uma cólica leve. Já tinha acontecido
algumas vezes, mas fiquei em alerta. Quando tive a quinta cólica, fiquei mais
alerta, tinha acontecido no máximo 4 vezes e parava. Baixei um aplicativo pra
monitorar. Em menos de uma hora deixaram de ser cólicas. Acordei marido. Eram 4
e meia da manhã. Tive uma dor de barriga no meio das contrações, e a partir daí
minha pressão ficava baixa toda vez que uma contração vinha. A essa altura
Leandro é que controlava as contrações no aplicativo. As dores foram ficando
muito intensas rapidamente. Ligamos para Ludmila. Disse pra ir pro chuveiro.
Pedimos pra ela ir lá pra casa. A pressão foi normalizando, as dores
aumentando. Pronto entrei na partolândia. Tudo estava acontecendo muito rápido. Não conseguia falar, pensar,
perguntar. No chuveiro eu tinha muuuuuito sono! Entre uma dor e outra eu encostava a cabeça no azulejo e cochilava! Vinha dor de novo! Que loucura, queria tanto dormir, e pensava só. Meu Deus eu estou pra parir e morta de sono. Nem lembrei que o tal sono era ocitocina natural. Eram 5 e pouca. Ludmila chegou bem rápido. Lembro que eu só
perguntava pra ela: Será que vou conseguir? Ouvi os sogros chegando, eles iriam
ficar com Tomás quando a gente fosse pro hospital. Lembro de Ludmila perguntar no
banheiro: quer ir pra maternidade? Eu apenas balancei a cabeça e disse que
seria difícil sair daquele chuveiro. Parte chata: botar roupa, caminhar até o
carro, passar por dezenas de buracos do asfalto (achei em alguns momentos que
poderia parir ali em qualquer avenida). Adoro manhãs de sábado ensolaradas. As ruas estavam livres. Eu mal abria os olhos no carro. Era muita dor. Tentava lembrar que de Tomás ainda aguentei 13 horas sem analgesia. Chegamos na Maternidade Santa Lúcia 7
da manhã. Fui direto pro chuveiro do quarto enquanto enchiam de ar a piscina. Enquanto
isso permiti um toque, estava quase 8 cm! Meu Deus, como estava perto! As dores
eram absurdamente fortes, achei que não ia aguentar, quanto mais eu achava mais o momento se aproximava. Não pensei em analgesia. As contrações estavam uma
atrás da outra e muito fortes. Entrei na piscina e fiquei com a mangueira por
cima da barriga. Enquanto isso ouvi vagamente Belle & Sebastian tocando baixinho, recebi pedaços de melão muito doces na boca. Quarto a meia luz. Cortinas baixas da janela. Uma voz diferente, era a neo que chegava. Eita, tá perto. Fechava o olho, a partolândia era ali! A ausculta tava normal, Melissa vinha
descendo na perfeição. Eu sentada no chão da piscina, tentava não me mover. Eu repetia para Ludmila: Acho que não vou aguentar!
Ela: já aguentou. Melissa tá vindo. De repente, Doutor Renato me aconselha a
mudar de posição, aquela sentada favorecia apenas as minhas dores. Criei
coragem e fiquei de joelhos. Ele ensinou a Leandro uma boa posição para ele me
segurar por fora da piscina. Daí em diante foi tudo muito rápido! Melissa só estava a espera dessa tal mudança! Senti cada
descida dela, as dores já eram diferentes, era um vulcão que eu já não controlava mais, acordei da partolândia. Sei lá, parecia que
eu tinha me banhado num mar gelado, fiquei alerta! Eu apenas fazia força quando Melissa pressionava. Gritei. Lud disse pra vocalizar, ajudava, e ajudou. O quarteirão deve ter ouvido. Mas não pensava mais em anda, queria que ela nascesse. Estávamos em sintonia. Eu comecei a chamar por ela, ela respondia. A
gente se ajudava! Acho que da hora que mudei de posição até ela nascer foram uns 40 minutos.
Depois de uns 7 ou 8 puxos, veio o circulo de fogo, era Mel nascendo como um
vulcão na água! Peguei ela ainda debaixo d´água, olhinhos bem abertos,
olhando pra mim! Lembro da sensação da pele dela! Meu Deus, eu tinha
conseguido. Foi tudo tão rápido, intenso! Eram 9 e 39 da manhã. A primeira
cólica tinha sido às 3 e meia. Tirei-a da água e abracei. Ela chorou. Nós
também! Lembro ainda do cheirinho dela. Esperamos o cordão parar de
pulsar. O pai cortou. Ela mamou. Muito calminha. Olhando tudo. Eu estava
eufórica, não conseguia descansar e falava muito. Sentia de verdade que tinha parido.Aos poucos, no dia a dia da segunda
maternidade, vi como aquele momento me transformou, como a
gente esquece fácil a dor das contrações por ser tão compensador! Ainda bem que
decidi acreditar em mim!
Gostaria de agradecer a equipe de Doutor Renato, especialmente por ter
me acolhido com quase 20 semanas, por ter dado a segurança que a gente
precisava e, principalmente, passado paz! Sim, essa palavra o define muito bem.
Não sei nem explicar, mas eu e Leandro sentíamos isso com ele por perto.
Agradecer a Ludmila que segurou todo tempo minha mão fazendo eu acreditar que
iria conseguir. A Franceli que teve todo cuidado com nossa Melzinha,
respeitando as nossas decisões relacionadas aos primeiros cuidados. E agradecer principalmente, a Leo que me apoiou, acreditou de novo em mim, que deu todo apoio necessário emocional e operacional. Que agora somos 4 em 1. Que Mel era a peça que faltava na nossa família. E que Tomás, tão pequeno, já conseguia demonstrar um amor tão grande ao conhecer a irmãzinha.
As mães que pensam em parir normal aconselho a escolha de uma equipe de verdade humanizada e preocupada e, principalmente, dedicada.
Aos grupos de apoio meus agradecimentos por toda informação disponibilizada tanto na internet, quanto presencialmente. E meu obrigada a todos que fazem, do nascimento com respeito, sua luta diária
As mães que pensam em parir normal aconselho a escolha de uma equipe de verdade humanizada e preocupada e, principalmente, dedicada.
Aos grupos de apoio meus agradecimentos por toda informação disponibilizada tanto na internet, quanto presencialmente. E meu obrigada a todos que fazem, do nascimento com respeito, sua luta diária